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Estado empurra endividamento do país para novo recorde

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Estado empurra endividamento do país para novo recorde

Elisabete Tavares (JN/Dinheiro Vivo)Hoje às 07:40Crise económica e medidas adotadas na gestão da pandemia alimentam novos máximos em dívida, uma tendência que se deverá manter ao longo do ano.Só num mês, registou-se um aumento de cinco mil milhões de euros no endividamento da economia portuguesa. Famílias, empresas e Estado somam um endividamento que atingiu um novo recorde, ao situar-se, em junho, nos 762,5 mil milhões de euros.O novo máximo histórico não surpreende. O endividamento do setor não financeiro tem batido máximos todos os meses. E a tendência deverá manter-se, à medida que se tenta minimizar os impactos da crise económica provocada pelas medidas adotadas no âmbito da gestão da pandemia.”Os apoios à crise vão continuar e, neste cenário, muito provavelmente, vai levar a que continue a subir o endividamento”, disse Filipe Garcia, economista da IMF – Informação de Mercados Financeiros. “Os bancos continuam também a querer dar incentivos à contratação de crédito”, adiantou.Mais recurso ao bancoDo total de endividamento, “350,5 mil milhões de euros respeitavam ao setor público e 412,0 mil milhões de euros ao setor privado”, este último montante repartido por empresas (267,9 mil milhões) e famílias (143,9 mil milhões – um máximo desde março de 2015), no primeiro semestre deste ano, segundo informação divulgada ontem pelo Banco de Portugal.Nas três situações – setor público, empresas privadas e famílias -, o aumento do endividamento resultou de acréscimos de financiamento junto dos bancos, de acordo com o Banco de Portugal.Em termos comparativos em junho face a dezembro do ano passado, os aumentos do endividamento foram de 8,1 mil milhões no setor público, de 4 mil milhões nas empresas privadas e de 2 mil milhões nas famílias.Filipe Garcia lembra que, devido às moratórias que estão ainda em vigor, o stock de dívida não tem diminuído como deveria, por haver menos amortização. No caso da moratória pública no crédito à habitação, o prazo termina no final do próximo mês de setembro.No global, o saldo de empréstimos abrangidos por moratórias no final de junho era de 37,5 mil milhões de euros, dos quais 14,4 mil milhões de euros respeitavam a créditos da casa.Dados preocupantesPara Filipe Garcia, os dados divulgados ontem pelo Banco de Portugal, que mostram uma evolução do aumento do endividamento da economia, são preocupantes, apesar de não se esperar para breve uma subida das taxas de juro de referência nem uma mudança na política de estímulos económicos do Banco Central Europeu.Mas este aumento do endividamento coloca Portugal numa situação mais débil. “Um maior nível de endividamento é sempre uma debilidade”, disse o mesmo economista. “Quer dizer que a economia como um todo está vulnerável a choques”, adiantou. “Mas o Banco Central Europeu estará sempre preocupado em não repetir uma nova crise de dívida, como a de 2011, que foi uma grande ameaça à moeda única”, apontou.Efeito das moratóriasPara o economista, o aproximar do fim das moratórias deverá levar a alguma redução do stock de endividamento, sobretudo no caso dos particulares. “Mas há um conjunto de medidas que vão ser postas à disposição das empresas que vão contribuir para o aumento do endividamento”, adiantou.Crédito fácilNo caso das famílias, a Deco – Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor alertou esta semana que há mais famílias a recorrer ao crédito fácil – cartões de crédito e linhas a descoberto – para pagar despesas e avisou que o problema se vai agravar com o fim das moratórias no crédito à habitação no final de setembro.16,6 milhões por diaNa totalidade dos novos créditos ao consumo, os portugueses endividaram-se em 16,6 milhões de euros por dia no primeiro semestre deste ano, de acordo com dados divulgados pelo Banco de Portugal no início desta semana.


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