Como o fim dos likes no Instagram afetará os influenciadores digitais?

O Instagram ajudou a criar a cultura dos influenciadores digitais, mas, ao que tudo indica, a rede social tem repensado a sua responsabilidade dentro de um universo de likes, bullying e competição. Nesta semana, a plataforma começou a ocultar o número de curtidas que os seguidores depositam em seus posts. De um lado, há quem tenha louvado a ideia, concordando que assim o Instagram conseguirá diminuir o ritmo de competição e comparação criado na plataforma. Do outro, influenciadores se queixam dizendo que dessa forma as agências de publicidade não conseguirão medir mais sua influência, consequentemente, prejudicando um modelo de negócios que se mostrou muito rentável. Segundo informações da Forbes, há influenciadores que cobram até US$ 100 mil por uma campanha de posts na rede social.

Atualmente, há mais de 500 mil contas de influenciadores digitais ativas, segundo relatório da empresa de métricas sociais InfluencerDB. Destacar-se na superfície desses posts exige, entretanto, além da dedicação, estar sujeito aos algoritmos do Instagram. Mas afinal, tais mudanças aplicadas recentemente irão influenciar o modelo de negócios dos influenciadores e das próprias agências que trabalham com eles? Para Isabela Ventura, CEO da Squid, empresa especializada em marketing de influência, ainda é cedo para avaliar o real impacto dessa mudança. “A proposta inicial do Instagram é diminuir a ansiedade causada pela comparação entre a quantidade dos likes entre os usuários. Como alguém que acredita no potencial criativo das pessoas nas redes sociais, espero que, com isso, passemos a valorizar cada vez mais a criatividade do conteúdo e a qualidade das conversas geradas”, avalia Isabela.

A mudança implementada pelo Instagram já vinha sendo testada com usuários no Canadá e o Brasil foi o segundo país a atualizar o recurso – ou a ausência dele. Até então, o Instagram diz que a novidade está em caráter de testes, o que indica que a supressão das curtidas pode ser temporária.

Rafael Coca, sócio-fundador da Spark, especialista em estratégia de conteúdo digital e ativação de marcas com influenciadores, acredita que a alteração é positiva e reforça o protagonismo da originalidade do conteúdo como gatilho para geração de engajamento com os seguidores.

“Essa medida impulsiona a criação de conteúdo, pois diminui o risco de ‘não exposição’, como algumas pessoas entendem acontecer se um post não atinge o volume de likes esperado. A ideia é que a publicação seja mais original e não pensada apenas em gerar curtidas”, destaca Coca.

Na visão de Isabela, a mudança não deve prejudicar a relação entre marcas e influenciadores. Ela também concorda que a atualização pode ser uma oportunidade para repensar o próprio modelo que se construiu ao redor do marketing de influência. “Talvez seja esse o momento de passarmos a buscar e valorizar novas métricas além das já conhecidas métricas de vaidade, como os likes”, sugere.

Qualidade, não quantidade

Na prática, a mudança implementada pelo Instagram afeta mais os olhos alheios, isso porque o usuário ou influenciador continuará visualizando o número de curtidas recebidas.”O que muda é que eles não terão mais uma base comparativa em relação a outros influenciadores”, diz Isabela que explica que, em campanhas, um dos atributos de um criador é agir como um conector entre a mensagem de uma marca e sua comunidade de seguidores. “A curtida é apenas uma das diversas formas de se engajar com um conteúdo”, reforça.

Entretanto, muitos influenciadores que criticaram a decisão do Instagram argumentam que a quantidade de curtidas é um dos elementos que fortalece o engajamento em seus perfis. Sem isso, o que defendem é que apenas um grande número de seguidores servirá para se sobressair no competitivo universo que habitam. Soma-se a isso, o fato de que muitos seguidores são obtidos de forma irregular.

O número de seguidores, destaca Isabela, serve para dar uma ideia do alcance de um influenciador. Ou seja, quantas pessoas potencialmente terão contato com aquela mensagem. “Porém, para termos uma ideia real do poder de influência de um perfil, é necessário ter um olhar mais atento aos comentários das publicações, por exemplo. Quantos dos comentários são relevantes? Quantos deles são realmente sobre o conteúdo publicado? Assim conseguimos entender se esse influenciador consegue gerar conversas em torno de um assunto e a qualidade dessa interação”, explica.

Estudo divulgado pela InfluencerDB revelou que o engajamento de influenciadores com seus respectivos públicos chegou aos piores resultados da história da rede social. Ao mesmo tempo, influenciadores estão publicando mais do que nunca. Segundo a pesquisa, publica-se 15 vezes mais posts editoriais e oito vezes mais anúncios patrocinados no Instagram em 2018 do que em 2016. Um caso emblemático recente que ganhou a Internet foi o da influenciadora Ari, cuja conta no Instagram superam 2,5 milhões de seguidores e suas fotos recebiam milhares de curtidas. Entretanto, ao lançar uma linha de camisetas na rede social, ela não conseguiu vender sequer 36 unidades. Ela mesmo contou sua frustração no Twitter em uma postagem que, depois, foi excluída.

Isabela lembra que, independente de likes à mostra ou não, influenciadores devem priorizar a qualidade de seus conteúdos para gerar engajamento, sendo os mesmos posts patrocinados ou orgânicos. “Quantidade não quer dizer qualidade, seja de likes e até mesmo seguidores. Foque na autenticidade e interaja com seus seguidores, crie sua comunidade, responda aos comentários e gere conversas de qualidade em torno do conteúdo que você produz. Afinal, é por isso que eles estão ali”, finaliza.

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